Categoria: Design

  • Layoff, IA, e o futuro do design

    Layoff, IA, e o futuro do design

    Estive de férias nesses últimos dias, e como minha esposa continuou trabalhando, não tinha como fazer uma viagem ou organizar grandes planos, então tive muito tempo para descansar em casa mesmo, trabalhar nos projetos paralelos que não consigo normalmente, estudar coisas novas, e também refletir sobre a possibilidade de eu ser pego na onda das demissões em massa.

    Pois é. Uma das empresas que eu trabalhava passou por severas mudanças enquanto eu estava nesse período das férias, e cerca de 60 pessoas foram atingidas pela temida demissão em massa, ou como o pessoal costuma chamar, layoff.

    Eu descobri que isso estava acontecendo no mesmo dia em que as pessoas foram desligadas, mas horas depois, quando uma amiga veio me perguntar o que estava acontecendo. Isso era uma terça-feira, por volta do meio dia. Daquele minuto em diante, pelo resto dos dias das minhas férias, eu fiquei pensando se isso realmente poderia acontecer comigo.

    As pessoas ao redor—amigos, familiares e colegas—diziam que eu era um profissional muito bom e que seria muito difícil me demitir. A grande questão é que várias outras pessoas tão capazes quanto eu foram desligadas. Eu seria só mais uma.

    Tiveram alguns sinais que me fizeram ter a certeza de que eu seria desligado também, então eu fui trabalhando essa calma e aceitação enquanto não voltava ao trabalho. Quando chegou segunda-feira, às 10 horas da manhã, tive a conversa que imaginava que ia ter, e eu estava bem calmo. Zero estresse ou ansiedade.

    Mas não significa que está tudo 100% bem.

    Nas minhas férias, eu fiquei mais refletindo sobre a possibilidade real de inteligências artificiais roubarem empregos do que o meu desligamento. É loucura total pensar que uma empresa pode realmente preferir um objeto sem raciocínio próprio, que é a IA, no lugar de pessoas, de toque humano, de empatia. Foi o que aconteceu. Um choque de realidade forte, bem na minha cara.

    Empresas como o Duolingo estão tentando lançar a moda do “AI-First”, que pode realmente virar moda em empresas de tecnologia tanto fora quanto aqui no Brasil. Eu tenho receio do quanto longe isso pode chegar, mas também tenho esperança de que as empresas que tomarem essas atitudes, em algum momento, vão se arrepender e voltar atrás.

    Ao mesmo tempo, não da para negligenciar a inteligência artificial. Ela veio, e veio para ficar. É preciso se adaptar, saber utilizá-la, dominá-la, e ser capaz de ser diferente.

    Eu sinto que para a profissão de design, ainda tem muita coisa para mudar e evoluir. Construção de interface, por exemplo, é uma das coisas que podem muito bem ser automatizadas por IA. Já acontece hoje, e precisa de melhorias, mas se parar para pensar, em dois anos a IA conseguiu gerar vídeos muito melhores, resolver problemas como as mãos bugadas que aconteciam frequentemente, e agora é quase imperceptível a diferença de IA e realidade.

    O processo de design de interface por LLMs vai melhorar, e antes do que a gente imagina. Pesquisas também já são realidades com funcionalidades de “deep research”, que exploram não só sites, como também APIs, arquivos em PDF, vídeos, imagens… Numa conversa recente também descobri IA para analisar problemas de usabilidade.

    Minhas férias acabaram se resumindo muito em projetos e estudos. Não da para ficar parado no tempo. É preciso bater de frente com as mudanças.

  • A perda de influência da área de marketing (e design)

    A perda de influência da área de marketing (e design)

    Recebi um link muito interessante numa newsletter hoje. Uma publicação do M15 chamada O marketing está em apuros. Resumidamente, a postagem traz os resultados de duas pesquisas que demonstram como o departamento de marketing está perdendo a influência. O que espanta é que essa perda de influência é comparada desde 1996 com outros departamentos de uma empresa.

    Contudo, o que mais me chamou atenção nesse texto foram os pontos em que o marketing ainda continua tendo valor (mensagens publicitárias, programas de satisfação e lealdade e mensuração de satisfação), e em quais ele perdeu espaço (expansão para novos mercados, direção estratégica da unidade de negócio, estratégia de distribuição e parcerias estratégicas).

    É impossível não perceber, até mesmo pelo nome, que todas as baixas envolvem estratégias na empresa. Com o boom das inteligências artificiais, era até mais fácil pensar que empregadoras iriam preferir usar IAs para todo o ambiente de criação de conteúdo, mas é totalmente o contrário. O valor enxergado no profissional de marketing ainda está na criação de artes para mídias sociais, e eu preciso destacar um trecho dessa publicação que para mim, é o mais importante de todos:

    O estudo mostrou que as empresas performam melhor quando o marketing tem mais influência nas decisões estratégicas. Pesquisadores descobriram que, quando o departamento de marketing tem mais poder de decisão na empresa, dois aspectos importantes melhoram:

    • O relacionamento com os clientes (coeficiente de 0,222)
    • O desempenho financeiro (coeficiente de 0,150)

    Ler isso me fez pensar em duas coisas diretamente:

    A primeira delas foi a relação verdadeira e forte disso com que eu enxergo aqui na região que eu moro. Eu não posso falar pelo Brasil todo, e nem por todas as pessoas, mas o que eu tenho visto da área de marketing é nada mais do que agências com demandas altas, em que os colaboradores trabalham em um fluxo de pastelaria, ou seja, entrega atrás de entrega sem tempo para respirar, ganhando no máximo R$ 3.000,00 por mês, e suando para conseguir bater a meta.

    Conheci muitas pessoas que viviam sobre esse modelo de trabalho, e que estavam a beira de um burnout. Um trabalho sem valor, baseado totalmente no aspecto visual, e que por mais triste que isso possa ser, não há incentivo e nem mesmo chance de melhoria do método de trabalho, porque isso esbarra em patrões que não olham para a qualidade de vida dos seus funcionários. Os clientes estão satisfeito e o dinheiro está caindo todo mês? Então está tudo bem.

    A segunda coisa que pensei, é sobre como isso é muito parecido com a área em que eu trabalho. Atualmente eu sou designer, trabalho com produtos digitais, na esfera da experiência do usuário (UX). Eu acho muito bacana, e fico feliz demais que a área que eu trabalho está crescendo, e que por ser professor, eu posso ajudar uma série de pessoas. Ao mesmo tempo, faço a relação de como está isso também na minha região.

    Já conheci algumas pessoas da minha cidade que estavam migrando para trabalhar com UX. Em todos os casos, as pessoas me perguntavam um direcionamento, por onde podiam começar… papo normal de quem está começando em algo novo. Em todas essas conversas, eu disse a mesma coisa:

    Estude, e se aparecer oportunidades aqui em Criciúma ou região, aceita, mas não fica presa na nossa cidade. A nossa profissão nos da a liberdade de poder trabalhar em casa, e muitas empresas entendem e adotam isso. A grande demanda de designer da nossa área por aqui é, na sua maioria, visual. Pessoas que sabem mexer no Figma para fazer a interface de um site ou aplicativo, e nada mais. Nossa área é mais do que isso.

    Bom, eu não disse com essas exatas palavras, mas essa é a ideia que transmiti. Tanto marketing quanto design são áreas fáceis de serem diminuídas, porque as pessoas não entendem o potencial e tudo o que esses profissionais podem fazer. Ainda tem gente no mundo que acredita que design é sobre desenho.

    É confortante para mim ver essa pesquisa dizendo que quando o departamento de marketing tem voz sobre as decisões estratégicas, as empresas performam melhor, pois é a mesma visão que tenho sobre UX. A questão é que as pessoas jurídicas precisam perceber que isso é essencial, e não um adicional.